domingo, dezembro 02, 2012


Maybe life is nothing but a nightmare, from which we wake up the moment we die.

domingo, setembro 30, 2012

O colecionador de dores


Existia algures, num tempo distante, numa vila sombria, um senhor que vivia num castelo de pedra cinzento. O senhor em causa era pouco dado a cumprimentos na rua, não porque fosse especialmente desprezível ou desagradável, no entanto, essa era a forma habitual como lidava com os habitantes da aldeia.
Um dia, ao observar o mundo exterior através de uma das suas janelas escondidas, visualizou um pássaro do tamanho de um ogre. O pássaro voou na direção deste senhor até que os seus olhos fixaram o interior do castelo. Logo de seguida, voou pela janela dentro.

O senhor ficou petrificado com tal fenómeno, não conseguiu mover-se do canto da sala. O pássaro andou então três passos à frente dele, depois virou a cabeça e disse-lhe:

- Não me digas que nunca viste um Moromo?

O senhor pouco depois balbuciou:

- N...... não!!! Tu és um pássaro falante? Já tinha ouvido falar da tua espécie, mas não. Nunca tinha visto alguém... algo como tu.
- Pois bem. Chegou a tua vez de nos conheceres. Nós vamos em breve frequentar a vossa vila. Faz parte do nosso ciclo de migrações.

Dito isto, olhou para a direita e verificou que existia um corredor escuro. Avançou para o corredor, mas o senhor gritou-lhe:

- Espera!! Não avances para esse corredor, a saída é mesmo por esta janela!

Estava de facto, em pânico, porque há cerca de dez anos que ninguém cruzava o caminho daquele corredor. O pássaro entretanto, ignorou a recomendação dada e avançou. Calmamente, começou a olhar para as paredes e verificou que as mesmas possuíam quadros expostos com caras humanas sofredoras. Cada quadro possuía um ambiente diferente, no entanto, o motivo e o tema dos quadros era sempre o mesmo.

- Tens um gosto um pouco duvidoso, ó marmanjo... - ironizou o pássaro.
- É a minha coleção mais importante. A minha coleção de dores, para não me esquecer de quem tanto mal me fez. Para me lembrar sempre que aquilo a que chamam de amor é asco, lixo orgânico, desperdício.
Este quadro aqui à tua frente, por exemplo, simboliza a dor que um dia uma mulher me causou, ao trocar-me por outro homem. Este aqui à tua direita, simboliza a dor que outra mulher me causou, ao desprezar-me um dia numa festa. 

O pássaro sentiu-se repentinamente mal e encostou-se num canto. 

- Desculpa, senti-me mal, não sei o que se passou. Mas espera, como podes imortalizar essas dores em quadros que vês todos os dias?
- Não percebeste, - disse o senhor - esta exposição de dores ajuda-me a levantar todos os dias da cama, a conseguir encarar o mundo exterior. Nunca mais permitirei que alguém entre em minha casa, porque frequentes foram as vezes em que esqueci o passado para depois me arrepender. Não! Quero estas dores presentes em mim, presentes em minha casa, nas minhas paredes, para que nunca me esqueça do quanto sofri e fui ingénuo.

O pássaro por sua vez, retorquiu:

- Tolo! Esqueces-te dos ensinamentos de Motodon, o nosso mestre! Esqueces-te de que, enquanto sofreste, também conheceste o amor, também dançaste, também sorriste! Esqueces-te de que ao sofrer, estavas a ser obrigado a mudar, a desenvolver características em ti que de outra forma nunca irias desenvolver! Esqueces-te de que cada sofrimento é uma fonte de conhecimento. Herege! Devia matar-te já aqui por renegares a Vida que te foi dada e a oportunidade que tiveste de poder adorar o deus Sol! No entanto, apelarei ao meu Ari* interior e não te farei mal. 

Dito isto, abriu asas e voou por cima do senhor, que caiu com a impetuosidade do salto, e saiu pela janela.

*Ari = Espécie de Guia

sábado, setembro 29, 2012


Existe uma ponte entre nós
...de papel

Que não te surpreenda que o vento seja ensurdecedor
E nos atire para baixo


quarta-feira, agosto 22, 2012


O desalento

O maior amor perdido
O coração bate fracamente na ausência do maior impulso
(Aguarda dois impulsos invisíveis e depois bate com o dobro da força, pesado
dorido nas veias)
Bate de angústia, definha de inércia

Nada pode ser feito
O meu maior amor perdido
Vai pelo vento embora
No meio das árvores, desapareceu
Abandonou-me crua

O calor de pegar ainda nas tuas mãos
E o frio de não as sentir nunca mais
Nunca mais o teu sorriso largo
Impulsionador de alegria nos desertos
O sorriso maior
Perdido
O tesouro maior
Roubado.

sábado, julho 07, 2012


A corda

A corda áspera corta
Aperta, a corda, com gomos de aço
Estica a pele, dilacera o músculo

A corda
Puxa
Cada vez mais

Até que se inicia o arrancar do membro em relação ao resto do corpo.
Começam as veias a ficar mais finas na extensão do organismo
Respirar e sentir o braço ou a perna a ser cortada do resto do corpo.
A pouco e pouco
Cada vez mais.

Assim são os dias de dor
Por ver alguém que sou eu, não sendo eu, que já não quer respirar.

domingo, maio 06, 2012


Brinde

As mãos entregues numa bandeja resguardada
Ofereço sangue cintilante também

Aquela porta fechada
A prenda que te ofereci veio devolvida
Aquela prenda vivida na minha carne, 
Eliminada.

Perder, no esquecer da razão,
o sonho evidenciado.
A ferida antiga do abandono,
Encontrada.

À tua inexistência no meu ar. Acedo ao teu pedido.
À tristeza imensurável.
Um brinde, caríssimos.

sábado, maio 05, 2012



Meaningless Treasures

The sound of plates when i arrive
home.
The lifeless space
filled
with everyday warmth.

All the mysteries
thrown away
Somehow are longed for.

Someone 
with whom 
to make it better.

sexta-feira, abril 13, 2012


Sexta-Feira 13, 01h18

O propósito da Dor. Descoberto.
Liberdade
Permitir que as ondas trespassem o corpo
Modificação da matéria
Não resistir
Nada a opôr
Leveza a entrar pela janela
E densidade a sair pela porta.
Numa consciência dormente.
O propósito da Dor.
...Descoberto!

Sexta-Feira 13, 01h21

domingo, abril 01, 2012

Se

Se algo correr mal, direi que foi naquele dia. Falecemos todos nós.
Apenas com alguns anos de diferença uns dos outros, em que vagueámos sem norte, até chegarmos ao fim. Naquele dia, não foi só o teu último sopro, foi o meu também, o deles, o nosso.

Apenas com alguns anos intermédios contabilizados desde essa hora. Mas tudo começou nesse dia trinta de Outubro.

No entanto, sei que deveria ser apenas como quando alguém de que gostamos sai numa estação de comboio mais cedo. Como quando fica aquele vazio no resto da viagem, até chegarmos a casa.

- Mas quantas vezes tenho eu de morrer?
O espelho não responde.


Humm

"-Hi!"
"-Well, hello there."
"- How are you?"
"-I'm really not ok. I'm dying, actually. Everyday."
"- Oh my god, really? I'm so sorry, i didn't know anything about that!.. Are you sick? What's wrong?"
"- No, it's just life. Life is killing me. Everyday i die a little more."

quinta-feira, março 22, 2012


The purpose of this being

Some people were not born to be happy, for happiness is not something that they could ever recognize or appreciate. Could this be true? I only want you to be happy. A woman prosperous on joy. That's all i wish, with all the strengh of my body and soul. That's all i shout out loud to the winds and waters. For you to be healthy and enjoy the good things, the little things. I need you so much, don't walk away on me.

The end of the world has come. It is all falling down already, the houses, the trees. I don't know where to turn to or where to hide and nohone can save me, not even myself. There's no hiding in hell.


sexta-feira, fevereiro 17, 2012


Da Imposição

Há quem necessite. Tal como o animal que, ao brincar, se aborrece sem limitações, sem alguém que grite, que diga, pára, chega, basta
Sem castigo, sem contrapartida negativa.
Há quem desespere.
Criação de outrém, sem mérito próprio na obra da vida, incluindo o nascer.
Sem alguém que defina onde acaba a estrada, onde começa o trilho.
Há quem definhe na liberdade da reinvenção do "eu".


quarta-feira, janeiro 25, 2012

Thought

"You know the world is getting to an end when people that write two bad sentences think they are genious poets and insist on showing their phoney work to everyone... and the ones that do write beautiful verses keep them in secret." :\


sexta-feira, janeiro 06, 2012

Fotos

Às vezes lembro-me daquele almoço de aniversário. Aquele, em que toda a gente apareceu. Mesmo pessoas que raramente costumávamos ver. A casa, pequena, não conseguia abrigar todos, algumas pessoas conviviam mesmo na rua e, especialmente nós, as crianças, preferimos ficar na rua. Nesse dia, fez-se o impensável. A mesa da sala ficou no quarto maior para haver mais espaço para todos.

Depois cantaram-se os parabéns. O melhor bolo que já tiveste. Era um campo de futebol com balizas e jogadores. Parece-me também que eram os melhores presentes.

Para mim, aquele dia foi só mais um aniversário feliz e alegre.
Hoje, quando revejo as fotos, vejo que todos sabiam. Todos menos eu. Todos sabiam que era o teu último aniversário. E vejo o sacrifício na cara dos pais, nas fotos. E vejo a tua alegria, o teu sorriso, maiores que os outros, maiores que o sofrimento, maiores que a doença. O teu sorriso para compensar a ferida.

Amo-te para sempre*.