quarta-feira, julho 28, 2010

c)

Os outros braços, os outros lábios
Ansiedade dentro de cálculo imediato
Talvez de olhos fechados consiga sentir o perfume inebriante
Do mistério condenado e ainda assim intenso
...
E regressa a embriaguez natural
Voluntariamente perdida num labirinto de espasmos absurdos
Sem forças para isolar o movimento
Rodeada de consciência gritante
E inútil

Mas todos sabemos que
Atrás da porta nada mais haverá que plantas caídas

quarta-feira, julho 14, 2010

b)

Sem ter letras para encher o papel, imagino o cultivo inexorável das obras imemoráveis. Até que um sussurro me enche o peito de nada
O vazio O branco O nulo

Se é só o que a vida nos traz, então seja isso que nos envolva agora o pensamento. Que nos curva a postura em vénia.
O inócuo O indolor.

O ar que respiramos, a água que bebemos. O que se chama também vulgarmente de sentimento. O nada. Aquilo que não se vê.
É tudo afinal.

sexta-feira, maio 14, 2010

A)

Nunca no escuro meu amor
Nunca no escuro, preciso de ver duas silhuetas em sombra interpostas na parede branca
Compromisso envolto nas linhas direitas do comum
Podemos tentar perder os limites da sombra no chão
Mas não se dissolve o arame com Aspegic

O tempo constitui-nos assim, rudes, perante a envolvência do fortuito.

sábado, março 06, 2010

A solidão*

O conto de fadas implícito morreu num terceiro andar, pelas mãos de uma alma corrosiva. Andreia num poço de vómito e lágrimas, no chão. Descobriu que o seu companheiro arrancava inocências. A polícia entrou pela porta dentro e quando saiu, desapareceu a vida de um amor encarnado.

Andreia tentou ainda conciliar a ideia do seu amante perfeito e delicado com o violento ser que se limitava a prazeres dilacerados e pensou que nunca mais seria a mesma. Sentiu-se suja e incapaz por ter sido ausente nesse conhecimento. Culpada e horrorizada pela participação involuntária no enredo. Ficou depois inerte várias horas sentada na cadeira da cozinha a olhar para uma parede branca, a conviver com a dor e os demónios que ficaram sentados a fazer-lhe companhia.


*(Esta pseudo história é fictícia.)