sábado, outubro 18, 2008

Mais um dia de escola fatigada, ao sair a professora disse-nos para darmos aquele papel aos pais para por eles ser preenchido.

Aquela porta estranhamente encostada não augurava bom prenúncio, mas a minha mãe veio à sala para ler o papel que lhe dei e perguntar como fora o dia. Quando leu as questões a que tinha de responder, denotou-se de súbito que ficara indisposta e logo após voltou para o quarto, ainda que sem sentido de orientação. Depois li a primeira frase do papel, era uma pergunta acerca de quantos filhos tem, se três, se dois, se um.

Entre a fresta da porta vi os meus pais que andavam de um lado para o outro. E o meu irmão continuava deitado na cama, pois conseguia ver os seus pés tapados pelo cobertor. Eu queria entrar para vê-lo e dizer-lhe bom dia, mas aquela porta assim encostada, infelizmente inibiu o meu impulso.

Em seguida voltaram e encaminharam-me para o quarto dos meus pais e lá fiquei. A janela estava fechada e a lâmpada acesa como de noite se faz. Chegou o meu tio e teria de ir com ele. Todos tinham um amargo tom na voz, uma luz apagada no olhar e queriam "raptar-me" daquele local.

Cada uma daquelas ruas onde passámos, estão ainda intactas na minha memória. A parede branca na curva ascendente, o chafariz de azul no lado direito.
Depois chegamos a casa dos meus tios, dão-me um álbum de fotografias para ver e oiço a minha tia repetidamente ao telefone. "- Estou? Sim, olha era para avisar que... O menino morreu".

Queria ter-te olhado uma última vez e dito Adeus.