sábado, dezembro 06, 2008


"Nothing is so common as the wish to be remarkable"


Regulavaste nas horas imediatas do sopro incandescente e questionava-me porque era sempre a penúltima, senão a última pessoa a ser escolhida para as equipas de educação física.

E podias dizer que talvez não fosse a pessoa mais dotada para ganhar um jogo de voleibol, especialmente quando todos os lançamentos eram fracassados na rede. No entanto, podia verificar que existiam vários grupos encadeados, vários perfis sociais de aluno-preferencial para as equipas de educação física. Uma delas era, de facto, o tipo social do aluno atlético e sociável, extrovertido, seleccionado sempre em primeiro lugar. Outro dos tipos de aluno era o que, não possuindo especial capacidade para interagir socialmente, tímido e introvertido, detinha dotes de desportista e sendo assim, era sempre preferível na escolha para determinada equipa. Ainda outro tipo social seria aquele que pelo contrário, não tendo quaisquer dotes de desportista, ainda assim a sua presença era sempre requerida, dadas as excelentes capacidades sociais de interacção interpessoal do aluno. Depois a nível intermédio, existiam aqueles com um desempenho instável nas duas áreas, desportiva e social. Numas alturas o desempenho - em pelo menos uma destas áreas - era bom, em outros momentos, seria menos bom, dependendo da conjuntura a respectiva selecção entre os pares.

Ora, para quem não possuía nem uma, nem a outra capacidade desenvolvida... sendo esta uma situação constante, só restava mesmo o último lugar. But "...nothing is so common as the wish to be remarkable".

quinta-feira, novembro 06, 2008


Barack venceu e o discurso comove. Nota-se uma diferença nas ruas, nos autocarros, as pessoas estão um pouco diferentes. A linguagem corporal das pessoas de etnia africana modificou-se, denota-se um orgulho na postura do corpo e uma satisfação interior inegável nas expressões faciais agora diferentes, isto aos olhos de uma caucasiana comum. A sociabilidade heterógenea torna-se de repente mais integrada nas normas quotidianas de interacção social em transportes públicos. Mas não concordo que se deva celebrar este momento como se fosse o cume de toda a história. Não estou contente por Barack ser eleito por ser negro, mas pelas ideias políticas que defende e pela tónica de coragem que imprime aos seus discursos. Não por ser negro, porque esta é uma mudança que há muito se devia, que é quase obrigatória em todas as nações que excluem do acesso ao poder as minorias, ignorando as potencialidades de cada um e concentrando as estratégias apenas num único grupo social dominante, normalmente do género masculino e branco.
E finalmente a lágrima rola, aí sim, quando se verifica que nas palavras, Obama não é arrogante nem vingativo.

sábado, outubro 18, 2008

Mais um dia de escola fatigada, ao sair a professora disse-nos para darmos aquele papel aos pais para por eles ser preenchido.

Aquela porta estranhamente encostada não augurava bom prenúncio, mas a minha mãe veio à sala para ler o papel que lhe dei e perguntar como fora o dia. Quando leu as questões a que tinha de responder, denotou-se de súbito que ficara indisposta e logo após voltou para o quarto, ainda que sem sentido de orientação. Depois li a primeira frase do papel, era uma pergunta acerca de quantos filhos tem, se três, se dois, se um.

Entre a fresta da porta vi os meus pais que andavam de um lado para o outro. E o meu irmão continuava deitado na cama, pois conseguia ver os seus pés tapados pelo cobertor. Eu queria entrar para vê-lo e dizer-lhe bom dia, mas aquela porta assim encostada, infelizmente inibiu o meu impulso.

Em seguida voltaram e encaminharam-me para o quarto dos meus pais e lá fiquei. A janela estava fechada e a lâmpada acesa como de noite se faz. Chegou o meu tio e teria de ir com ele. Todos tinham um amargo tom na voz, uma luz apagada no olhar e queriam "raptar-me" daquele local.

Cada uma daquelas ruas onde passámos, estão ainda intactas na minha memória. A parede branca na curva ascendente, o chafariz de azul no lado direito.
Depois chegamos a casa dos meus tios, dão-me um álbum de fotografias para ver e oiço a minha tia repetidamente ao telefone. "- Estou? Sim, olha era para avisar que... O menino morreu".

Queria ter-te olhado uma última vez e dito Adeus.

terça-feira, setembro 02, 2008

A los platos sobre a mesa, a fruta deitada sobre o calor da manhã. Dormia ao longo do campo inédito daquela praça verde insuficiente. Colorida de amarelo, fazia parte do tecido das flores plácidas e contentes. A sombra apenas desenhava o limite físico do corpo, porque a imensa nebulosidade estava agora indefinida.

terça-feira, agosto 12, 2008


Farta do som do português

Ai vordadore, amique num espaço pequelo
Langue isse tudra que tu queres
pode srer tudo o que queres
torcer as apalavradas ao limitatum

... e escolhi o mundo nnovo

segunda-feira, julho 21, 2008

"Mr. November"
Sr. Euletério, adquire tudo o que é velho, talvez por uma nostalgia inquietante. Dirige-se a qualquer loja de antiguidades com aquele gosto nos lábios ao imaginar em seu poder mais um objecto com pó.
Sra. Adorinda, clama por mais peixe na tábua de cozinha, mas o peixe é caro. E há aquele vizinho de quem se diz nunca sair de casa há mais de vinte anos. Trabalhava como auxiliar num hospital mas um certo dia despediu-se do emprego e decidiu passar todos os seus outros dias em casa, fora da observação de qualquer alguém curioso.
E Abel pensava que era terrível estar triste, mas pior que isso é não estar alegre nem triste. Ser indiferente, ausente de sentimentos por tudo, até por aquela flor bonita, pensar que não é bonita mas saber também que não é feia. As baratas também não têm sangue.
Tinha visto aquele filme em que os super-heróis precisam de se manter longe um do outro para que nenhum perca as suas potencialidades. Abel questionava para si próprio se era realmente assim, se o filme pode ter alguma correspondência com o quotidiano.

terça-feira, junho 17, 2008

I am under the impression that this might be one of the reasons why Amy Winehouse does drugs. If i had a daily life like this, i would probably jump of a bridge or something like that. Are there no limitations to the interest of the media? What about people's private life and sanity?

quinta-feira, março 06, 2008

Miosótis

As árvores iluminadas
Where can it be?

... o meu orgão piano salta de dentro destas paredes de tecido
para chegar ao cimo e desintegrar-se em pó que cai sobre ti

Para que eu chegue como o ecoar de sombras
no libertar da pele comum

sexta-feira, janeiro 25, 2008

tragically bumping into something old

A sombra rude de alguém que sou eu.
Traveller cheques
Deixo que o tempo me marque com um sinal exuberante
Improviso.
São sons distorcidos que me descrevem
Como que arrastam um saco de palha no terreiro, de contentamento momentâneo.
Eu, que sou feminino.
Encontro moroso num lábio incendiado de vezes incontáveis.

sábado, janeiro 19, 2008

Ice Rocks

Hoje é sábado, mas no fundo é apenas mais uma quarta-feira. Vou no comboio, olho para a janela e é escuro. Passamos numa estação ferroviária onde, ainda na semana passada, morreu uma pessoa colhida por um comboio, tal é a qualidade e segurança de muitas das nossas estações suburbanas. O local onde a fatalidade aconteceu está assinalado por uma coroa de flores - que pelos vistos ainda não foi vandalizada. Recordo que no outro dia, nesta mesma estação vi um rato a passear perto da zona de espera dos passageiros, o que me fez imaginar aquela estação como um cano de esgoto... Sem ofensa aos ratinhos, obviamente. Mas agora... agora a estação assimila-se mais a um cemitério.
De qualquer maneira, pouco depois, senta-se a meu lado uma rapariga com um embrulho ao peito um bébé, penso eu. O normal nestas situações talvez fosse o meu olhar para o pequeno ser em tons ternurentos, de modo a criar uma certa situação de intimismo social e finalmente de justificação perante a condição humana. Mas não o faço. O que me interessa a mim o produto que outra pessoa realizou? Que tenho a ver com isso e qual é a minha obrigação em visualizar esse produto fabricado?... Nunca gostei muito de crianças de qualquer modo... Não que tenha algo contra elas, apenas não sinto empatia imediata pela sua categoria em termos sociais. Porque é que temos que gostar de crianças só porque são crianças? Se não tenho resolução para as minhas próprias questões filosóficas, como iria suportar as dúvidas abruptas e por vezes violentas que cada criança tem? E que direito teria eu de limitar a natureza curiosa inerente a cada uma delas com a minha definição insuficiente da realidade?
Depois olho para o lado, finalmente, vejo que é apenas um cãozinho bébé embrulhado numa série de mini-cobertores. E penso que... é um cãozinho adorável e eternecedor. :\