sábado, março 04, 2017



- Oh, porque não tomas aqui um copo de
amor com medo, vá lá
Sabor diferente, perigoso

Se beberes muito, ficas sem alma por dentro
Não era o guião certo para a história

-Toma um copo de fungo verde
e observa o conteúdo a queimar-te por dentro
E diz depois que é amor.

O carinho esticado à pena, prolongado à impotência
Temperado pela culpa.

Habituação a novas regras, queres que te ame assim?
- É assim que queres que te ame.
E eu tentei amar.
Tentei amar um ferro a queimar.
- permaneci enquanto a ferida se formava na pele.

Mas, mesmo que não queiras, as flores murcham, 
sem sol, sem água, sem vida.
Dentro de mim.
Apaga-se também um brilho no olhar
Infelizmente.

Conto os dias desde que não te vi.
É o tempo em que aumenta um movimento estranho
nos meus lábios...
uma expressa vontade de sorrir.
Basta do olhar vazio.
Disposta e ansiosa por esquecer-te a vida inteira!


quinta-feira, agosto 14, 2014




Amar-te-ei na morte tal como em vida.

Se me alegrei com o teu sorriso ao vivo,
Porque não hei-de rir no vazio de ti

Deixa de ser bonita a areia da praia, quando termina o mar?
(o mar nunca termina)

Estas roupas apertadas que visto
Preciso de ver além da margem
Porque estas roupas não me servem
E estes óculos não me permitem ver 

A morte é vida tal como a vida pode ser morte

Não desaparece a forma, apenas toma outro rumo,
No sonho, o caleidoscópio do fim.



domingo, maio 11, 2014



O teu grito amordaçado 


Das flechas atiradas ao vazio
Depreende das minhas línguas
O teu sorriso
Elevador para o tecto, para o céu
para o abismo

Contempla a tua própria tristeza
Dobrada no chão
Viver é perder, viver é perder
É não lembrar o que se perdeu 
Para não se enlouquecer

Viver é rir para esquecer o choro
Somos o que fica do que restou
E não é muito, 
Não é muito.



quarta-feira, fevereiro 05, 2014



Numa rua escura

A folha da árvore cai no chão

E o gelo é o que a folha tem como abraço,

Aprendeu a procurar o carinho do frio pingado

Porque é tudo o que sobra

À espera que o Amor Maior aconteça novamente

Um dia...

O amor que nos faz despir a pele amarrotada

E vestir o colete à prova de bala..


sexta-feira, janeiro 03, 2014


Ela já não regressa,
A consciência
Saiu do meu corpo
Viajou por aí

Perdeu-se no meio das árvores e dos carros
das luzes 
Perdeu-se nos gritos na rua à noite, 
numa janela

A consciência ejetou-se do avião
Como acontece nas emergências

E, pensei para mim,
Na próxima vez que acontecer esta viagem
Ela já não regressa aqui

Ficará para sempre a pairar 
A flutuar sobre a realidade
Não regressará.



sábado, julho 06, 2013

Miau



Quando eu sair desta terra,
As folhas amarelas das árvores 
continuarão a cair no chão

Quando eu sair desta terra,
Os passarinhos continuarão a cantar
O sol continuará a brilhar dia após dia

Os gatinhos continuarão a miar
O vento continuará a soprar no ouvido
Esperança e alegria
continuarão nos sorrisos das crianças

Quando eu sair desta terra
Quando me unificar com o anoitecer
Poucas lágrimas ficaram por cair
... E que melhor forma haverá do que desvanecer
em moléculas sozinhas?


sábado, junho 15, 2013



É impossível reunir as palavras

Dispersas pelo monte como ovelhas

É difícil pousar a cabeça e pensar, discorrer ou dormir

É escasso o espaço para opções ou sonhos

Miragens !


Abro a mão: contido som sustenido mendigo

O meu sorriso sem motivo

A irracionalidade salva-me do precipício

As minhas frases desconexas e as palavras que ecoam no ar

É tudo o que possuo ou que me é permitido construir


E no meio de tudo isto, a exigência de ser inteligível... !

Pode o mar guardar-se numa gaveta, ordeiro ?